Texto por Janie Silva.

 

 

Merecidamente, Glenn Hughes faz jus à alcunha de Voice of Rock: na terça-feira, dia 07/11/2023, o músico fez um verdadeiro espetáculo em comemoração aos 50 anos anos do disco Burn da sua antiga banda, Deep Purple. 

 

Glenn subiu ao palco às 21h pontualmente, com a banda que está apoiando sua turnê atual: Soren Andersen na guitarra, Ash Sheehan na bateria e Bob Fridzema nos teclados, com ele próprio tocando baixo. Com uma energia absurda, que fica ainda mais aparente quando ele começa a cantar, o vocalista foi ovacionado assim que apareceu à vista do público que lotava o Opinião para vê-lo mais uma vez.

 

O setlist iniciou com Stormbringer, que originalmente é cantada por Dave Coverdale no Deep Purple mas que tem seu valor apenas ressaltado na voz de Glenn. Já na primeira música era notável o brilhantismo dos músicos que compunham o restante da banda mas na segunda música, Might Just Take Your Life, o tecladista Bob Fridzema sobressaiu-se de maneira quase hipnótica no controle das teclas que um dia foram de John Lord. Sail Away foi a terceira música e aqui foi evidente que Glenn estava poupando a voz ao fugir da extensão vocal que é sua marca registrada, por um motivo que seria revelado adiante. Aos fãs que haviam notado algum resguardo, Glenn os resgatou com um emocionado “I’ll take you to california jam” carregando um público embasbacado para uma viagem aos anos 70 através de uma jam que englobou as músicas You fool no one, High ball shooter e um solo de bateria inacreditável.

 


Ao fim dessa alegoria sensorial, Glenn confidenciou ao público que estava muito doente e havia cogitado cancelar o show (o que acabou fazendo na noite seguinte em curitiba), mas que não conseguria deixar o público de Porto Alegre na mão e preferiu tocar mesmo doente. 

 


A música que seguiu seu desabafo é uma das mais belas e dolorosas baladas do hard rock, Mistreated, que Glenn optou por deixar o público conduzir por boa parcela com a justificativa 'Your voice is my voice', antes de seguir por outra jam duradoura e super melódica no palco nos qual todos os músicos presentes no palco tiveram a oportunidade de reverberar.

 


Abandonando por completo qualquer resquício melancólico, a melhor da noite foi Getting Tighter que tirou o público do chão e deixou a todos assombrados com o talentoso guitarrista Soren Andersen. Com o show se encaminhando pro final, Glenn fez um solo de baixo curto e ritmado, e cantou a clássica You keep on moving com inúmeras declarações à audiência porto alegrense e aos antigos colegas de banda (tanto os vivos quanto aos falecidos) antes de ir a um pequeno intervalo. Na volta do bis, possivelmente a mais aguardada na noite pelo público e que leva o nome da turnê, em Burn, Glenn Hughes não cantou nenhuma palavra – senão os costumeiros gritos que são sua marca registrada – deixando a audiência conduzir a música em um coro esplêndido que vai ser difícil de ser superado.

 


Mesmo adoentado, Glenn é brilhante, dono de um carisma e energia absurdos, além de ter conservado – senão aprimorado – seu talento enquanto vocalista e baixista. É um fato que Deep Purple é uma das mais proeminentes bandas de todos os tempos, e quem puder saborear um pouco desse banquete a partir do seu antigo baixista e vocalista, Glenn Hughes, não se arrepende.