Por Carlos Augusto Monteiro.

 

 

Quem diria que o doidão Ace Frehley, o guitarrista original do Kiss, se tornaria septuagenário. Justiça seja feita, já tem 15 anos que "Space" Ace, o homem que vivia fora de órbita com bebidas e drogas, largou essa vida.

 

E de lá pra cá tornou-se muito produtivo. Em 1989, após lançar "Trouble Walking", Ace levou 20 anos até voltar com "Anomaly", mas desde então nos deu mais quatro álbuns, sendo dois de covers super bem escolhidas e executadas, com os clássicos que o inspiraram na carreira. No Kiss ele esteve desde a fundação, em 1973, até Creatures of the Night, em 1982 (apenas creditado, pois já não tocou mais).

 

É famosa a história de que já estava tudo certo para o guitarrista original do Kiss ser Bob Kulick, irmão de outro integrante do Kiss futuramente (Bruce), quando Ace chegou na audição com um sapato de cada cor. Estava selado ali seu destino.

 

Como conta em sua divertida biografia "Não me arrependo – memórias do rock n´roll", Ace teve o privilégio de assistir na mesma noite, em um pequeno teatro de Nova York, a shows do The Who e Cream em suas primeiras turnês nos EUA.

 

No Kiss, sua passagem foi arrebatadora com ótimos riffs e composições e também muitas tretas pelo hábito de beber. Deixou clássicos como “Shock me” e “Rocket Ride”. Seu álbum solo de 1978 foi o que mais vendeu dentre os quatro integrantes e trouxe seu maior hit, o cover “New York Groove”, da banda Hello. Na sua ausência entre os dois períodos no Kiss ainda teve um ótimo momento liderando a Frehley´s Comet, com destaque para seu primeiro álbum, com o hit “Rock soldiers”.

 

Já na volta à formação original no Unplugged de 1995 fez uma execução inesquecível de “2000 Man”, dos Stones, gravada anteriormente no álbum Dinasty, de 1979, e que ganhou vida nova.

 

A bordo dessa turnê de reunion veio em 1999 a São Paulo e Porto Alegre promover o álbum “Psycho Circus” e ainda voltou solo em 2017 na capital paulista.

 

Daí em diante passou um bom tempo numa carteira errática e sem grandes emoções (fora as bebedeiras e festas habituais) até dar a volta por cima e entrar para o Rock n´ Roll Hall of Fame em 2014 (numa frustrada situação em que o Kiss não aceitou se apresentar com a formação original).

 

É certo que seus trabalhos recentes de inéditas (nos álbuns “Anomaly” e “Spaceman”) não mudaram o mundo e esse marketing de “homem de espaço” já está meio desgastado. Mas são álbuns de qualidade que até surpreendentem por tudo que passou.
 

Ace hoje é um senhor de cabelo pintado, que usa cavanhaque e que nunca tira os óculos, escondendo a maior parte do rosto, numa nova versão de “maquiagem”. Mas ele conserva a mítica de guitar hero e volta e meia surgem boatos de que voltará a tocar com o Kiss, nem que seja uma ocasião especial, possibilidade que nem os ex-patrões Paul Stanley e Gene Simmons descartam.

 

Enquanto isso não acontece seguimos celebrando a vida e obra deste músico, que, se não é tão reconhecido pela crítica como merece, tem a admiração de guitarristas de renome como John 5 e Mike McCready (e que participaram das edições de Origins).

 

Enquanto os alienígenas não vierem buscar Ace na Terra, seguimos curtindo a carreira desse ET da guitarra!