Texto por Maria Benincá e fotos por Rômulo Konzen

Na noite do dia 11 de abril, no Salão de Atos da PUC, ocorreu o show do Rick Wakeman, com a abertura do violonista Rodrigo Nassif. O virtuose das cordas foi uma boa escolha, dentro da temática virtuosismo instrumental, mas num instrumento diferente, evitando ficar (diretamente) à sombra da atração principal.

 

Antes de comecar, o palco já chamava atenção. Acostumada a ver o tecladista cercado por uma média de 8 teclados, vimos montado apenas dois pianos digitais (ambos workstations da Korg), e o piano de calda do próprio teatro. As partituras no instrumento me trouxeram lembranças dos diversos recitais de piano erudito que acompanhei. Era um palco intimista, sem qualquer produção extra de cenário, com uma iluminação simples e direta, dando já o tom de como se daria o show da lenda das teclas.

 

Às 21h, Rick Wakemann, conhecido tecladista da famosa banda de rock progressivo Yes, instrumentista que entrou pra história, referência para músicos no mundo todo, entrou no palco como quem chega na sala de casa: dessa vez, sem a capa, mas com um belo paletó preto, com uma textura de linhas brilhantes, vestígios da grandiosidade das produções passadas. Wakeman foi imediatamente aplaudido, ovacionado – eu juro, eu vi uma pessoa se ajoelhando e fazendo reverências ao homem. Sua entrada, primeiramente discreta, explodiu com a alegria dos fãs. Essa foi a sensação que eu tive: de que era uma plateia verdadeiramente apaixonada por aquele artista, pela sua história e por tudo que ele representa. E esse show, eu tenho certeza, Rick Wakeman pensou exatamente para essas pessoas.

 

O clima intimista, o artista à vontade, conversando entre uma música e outra, era como se estivessemos na casa dele, com ele sentado no seu instrumento, contando histórias e compartilhando músicas. Com a diferença de que as histórias falavam da carreira de um tecladista que conquistou seu lugar na história da musica, o artista em si era um grande virtuose do instrumento, as musicas compartilhadas, de um nível instrumental e artístico elevadíssimo, a casa era o salão de atos da PUC e a entrada no evento, garantida pelo pagamento de ingressos de valores bastante elevados. Ainda assim, penso que foi uma experiência única para os fãs, um formato que permitiu uma proximidade que talvez não fosse sentida em um show mais produzido.

 

O show durou cerca de 1h30 e passou por músicas da sua carreira solo, artistas com quem contribuiu, uma sonata com temas do Yes (como se fosse um pout-porrie de diversas músicas da banda) e arranjos juntando reverências do gosto e da criatividade ímpar de Wakemann. Quero destacar não apenas sua técnica instrumental, mas seu domínio da tecnologia dos teclados – a tranquilidade com a qual ele passava de uma programação a outra, sem qualquer perturbação na sua performance era impressionante. O teclado nas mãos de um instrumentista como ele é um instrumento realmente espetacular: o homem, com apenas dois Workstations, trouxe a sonoridade de uma orquestra completa para o palco.

 

É preciso dizer que, embora tecnicamente impressionante, a performance não foi tecnicamente perfeita. Refleti muito sobre esse significado. Como tecladista de banda, com formação no piano erudito, eu sei bem que numa performance solo estamos muito mais vulneráveis – "nus" – do que quando tocamos numa banda, onde pequenas derrapadas se diluem no conjunto sonoro. Mas talvez ele simplesmente não estivesse preocupado com isso. Ele, de fato, não precisa provar mais nada pra ninguém. Ele chegou nesse ponto da carreira em que, no momento em que ele senta diante de um instrumento de teclas, nós queremos saber o que vai sair daquelas mãos, indiferente do quão impecável for a execução das partes mais desafiadoras. Dito isso, gostaria de destacar a linda Sea Horses, cuja profundidade melódica, harmônica e timbre, me levou para outro lugar. 

 

Cabe ainda uma menção ao bis, na qual tivemos a chance de ouvir a memorável Journey… tal qual ela foi composta: apenas o homem no seu piano.

 

SETLIST:

1 – Jane Seymour
2 – Catherine Howard
3 – Space Oddity / Life on Mars? (David Bowie cover)
4 – Arthur / Guinevere / Merlin the Magician / The Last Battle
5 – Sea Horses
6 – Yessonata (Trechos de covers do Yes)
7 – Help! / Eleanor Rigby (The Beatles cover)
BIS:
8 – The Journey / Recollection