Entrevista/texto/post feito por Cassiano Becker para um trabalho de faculdade.
Noite quente, como são as noites de novembro. Naquele sábado, meu telefone tocou com uma mensagem, “chega aí em casa. Vamos fazer alguma coisa”. Uma hora depois, estou na porta do apartamento. Uma mão cumprimenta o rapaz parado à porta, a outra carrega a discografia do Mars Volta. Conversar com Metal sempre acaba em rock.
O jovem faz jus ao apelido: alto, magro e barba “por fazer”. Camisa preta e calças pretas. Olhos negros e cabelos negros. Aqueles cabelos longos e lisos clássicos dos headbangers estereotipados da TV e das revistas. Porém, antes de ser “Metal”, Rômulo Konzen (21) conheceu o rock n’ roll como muitos dos amantes do estilo: “Lembro-me de já com 4 anos de idade dormir em baixo de um quadro do Black Sabbath, e ouvir CD’s do Raimundos e do Tequila Baby, ambos (quadro e CD’s) do meu irmão”.
Com o afastamento do convívio com o irmão, Fernando Konzen, Rômulo fez o que fazem a maioria dos jovens: experimentou. “Lá pelos 12 a 14 anos, entrando na adolescência, o interesse pela música voltou. Influenciado por colegas de aula, então, comecei a ouvir rap, que estava em alta entre os pré-adolescentes da época. Porém, só aos 16 anos, quando voltei para minha cidade natal, reatei contato com um amigo de infância, Douglas Renner, que, na época, talvez por ser seis anos mais velho do que eu, já curtia Rock’n Roll.”
A adesão ao estilo lhe fez parecer um metaleiro, mas a paixão de Metal está em todo o rock n’ roll. “Douglas começou a compartilhar seu gosto musical comigo, me apresentando ao Guns N’ Roses, AC/DC, Led Zeppelin, etc… Os clássicos. Foi “amor a primeira vista” pela sonoridade, pela ideologia, por todo o universo do rock.”
(Douglas Renner e Rômulo Metal)
Hoje, Douglas e Rômulo são parceiros no Crazy Metal Mind, site sobre rock que surgiu como uma forma de trabalhar com o assunto que é parte importante da vida de ambos. “Em 2010, já cursando faculdade e morando sozinho, sentia a necessidade de arrumar um hobbie e também fazer algo ligado ao Rock. É triste ser apaixonado por música e não ter o dom para tocar, cantar ou compor”, diz Rômulo. “Costumava acompanhar vários blogs – nenhum grande – apenas de amigos. Eles escreviam, praticamente, sobre suas vidas. Foi então que tive a ideia de unir minha vontade de fazer algo relacionado ao rock, com algo que eu estava curtindo na época”.
Passando entre tópicos, a cada gole de Coca-Cola o estereótipo do jovem Metal cai por terra. A “pinta” de metaleiro pouco combina com o tom de voz tranquilo e com a fala educada. O apelido cunhado em Santo Ângelo, sua cidade natal, indica, apenas, uma pequena fração da presença da música no seu cotidiano. “No princípio, o blog era apenas um tipo de “catálogo” onde eu colocaria, de uma forma organizada, todo meu conhecimento sobre rock”. Rômulo complementa: ”então o CMM começou assim: com posts onde eu colocava minha opinião sobre algum assunto ou apenas despejava o meu conhecimento sobre o mesmo. Normalmente dando alguma pesquisada antes, para não escrever bobagem”.
No corredor do prédio, ao ar livre, Rômulo está sentado em um colchão, no chão. Eu estou sentado a frente dele. O vento sopra forte. Baixa a temperatura, mas não baixa o ânimo da conversa. Como o vento passa por nós, Rômulo vai passando pela história do site. ” Na época, o ainda blog, começou a ser bastante elogiado por amigos e até por leitores desconhecidos. Novamente influenciado por uma mídia que andava sendo bastante consumida, os podcasts, decidi convidar o Douglas para gravar sobre assuntos relacionados a rock”. “A ideia era de todo episódio conter Douglas e eu, e algum convidado, dependendo do assunto”. “Logo no episódio 5, chamei o Daniel.”
Daniel Iserhard e Rômulo se conheceram em 2008. O primeiro trabalhava na famosa rádio Pop Rock, de Porto Alegre. Apesar de não ser locutor, era citado em algumas edições do “Cafezinho”. Ainda em sua cidade natal, Rômulo era fã do programa e foi apresentado a Daniel por uma amiga em comum. Quando mudou-se para São Leopoldo, a estudos, passou a ter em Daniel um dos poucos conhecidos na região. O convívio aumentou e aquele que era o convidado do Podcast #5 está presente em todas as mais de 60 edições gravadas até o momento.
(Rômulo Metal e Daniel Iserhard, incrivelmente o único registro em foto de ambos juntos.)
“Com o decorrer dos podcasts, por problemas pessoais Douglas se afastou, o Murilo Armageddon (nome verdadeiro: Christian Heit) participou de alguns como convidado e cada vez foi participando mais”, conta Rômulo. ” No final das contas eu e Daniel estamos sempre presentes, contando com a presença do Douglas (que conseguiu voltar às gravações) ou com o Murilo, como colaboradores. Já tivemos, esporadicamente, diversos outros convidados”, completa.
(Murilo Armageddon e Rômulo Konzen em outros carnavais)
Nesse limbo entre hobby, paixão e profissão, o trabalho executado pelo CMM não passa longe das ambições de grande parte das pessoas que tentam a sorte na produção de conteúdo online: “A ideia é viver do site. Transformar ele em uma fonte de renda e mais do que isso, em um sinônimo de entretenimento relacionado ao rock. Parafraseando Douglas Renner em algum podcast, transformar o CMM no “Maior portal de mídias de Rock’n Roll da internet”.
Não era o nascer do sol, mas os pássaros já cantavam. Tinha que ir embora, afinal, Metal teria uma longa tarde de domingo editando o podcast da semana. Antes de partir, ainda pude ver um pouco mais do futuro do projeto. “Criar um mundo dedicado ao rock’n roll, que cubra tudo, desde um mero podcast ou texto, até um estúdio, uma gravadora, um festival para milhares de pessoas. Isso tudo, sonhando muitíssimo alto”, explica.”Sem jamais fazer propaganda de TekPix em um podcast sobre Megadeth”, terminou, com uma piada que mais parecia um dogma.
No caminho de volta, a noite já não era quente. O frio solitário das ruas de Novo Hamburgo. A solidão de quem tenta transformar paixão em um meio de vida. Para tentar a sorte na internet não precisa de muita coisa. É só abrir uma conta no Word Press ou no Blogger e pronto. Agora, para chegar na ponta, para ser bem sucedido, tem que ter gana. Tem que aguentar opinião de fã ofendido. Tem que perder noites estudando para as gravações. Deixar a namorada “pendurada”, enquanto edita os podcasts. Exige um pouco de loucura também, mas tem que ser forte e irredutível. Metal começa pelo nome.
Let’s play ROCK!