Texto por Leandro Pereira.

 

 

Depois de três anos do sensacional Machine Messiah, o Sepultura nos brinda já no começo de 2020 com um dos possíveis discos do ano. Batizado de “Quadra” o disco faz o que parecia ser difícil, ou quase impossível. Superar o anterior. Pelo menos em matéria de grandiosidade, ousadia, experimentalismo e virtuosismo. É realmente de cair o queixo o nível técnico, de produção, composição e sonoridades diversas, todas executadas com precisão e maestria. Só pra mencionar os destaques individuais. Eloy Casagrande não pode ser um ser humano. É um monstro! É de esmigalhar cérebros o que toca esse moleque! Derrick tá cantando como nunca, tanto na boa e velha berraria, quanto quando arrisca seus já conhecidos vocais mais melódicos e gravões. Nunca vi Andreas Kisser solar igual nesse disco. Tá um fritão dos mais sinistros. E o Paulo, é o Paulo né! Esbanja simpatia e bom humor! hehehe

 

Assim, se você (ainda) é um detrator da fase Derrick Green e fica por aí de viúva da formação antiga, relaxe. Eu te entendo. Também sou assim às vezes. Mas dispa-se de seus preconceitos, pelo amor de deus, já se passaram mais de 20 anos. Perder a música boa que esses caras vêm fazendo, principalmente nesses últimos anos, é no mínimo uma burrice.

 

Voltando ao álbum, é um disco conceitual. Quadra se refere á um bloco, um coletivo, com regras, onde se vive uma sociedade ou vizinhança, ou qualquer coisa que o valha. É meio confuso, eu sei. Parece um resgate do conceito do álbum Nation, onde éramos todos partes uma mesma nação. Ainda somos, mas agora separados por quadras. Viagem minha? Pode ser. Qualquer coisa, pergunta lá pro Andreas.

 

A escolha da capa mostra esse conceito, uma moeda do Sepultura. Sendo a moeda a coisa que unifica as regras de uma nação e tal. Mas o mais interessante do conceito é a “numerologia” a envolvendo. O próprio Andreas em entrevista disse que o disco é pensado como um vinil duplo. Quatro lados. Quatro quadras. Ò! Vou respeitar o conceito do beijoqueiro e analisar aqui quadra á quadra.

 

Quadra 1: Thrash comendo solto. Chute no crânio e soco no nariz! Isolation já conhecida do povo, é uma pedrada, me lembra bastante o som mais moderno do Testament. Já nessa música começam os solos virtuosos e efeitos como coros, e cânticos. Aliás, uma crítica minha seria esse excesso de coros e cânticos. Não acho que combine muito com Sepultura. Pura pentelhice minha. Enfim, Means to na End, que groove insano! Pantera na veia! A última dessa “quadra” também é muito boa. Last Time. Letra primorosa que parece versar sobre vício em drogas. Belo flerte com o Hardcore, que é a praia do Derrick, mas tudo tocado com extrema competência e complexidade técnica. Lado A, perfeito! Pra “troozão” nenhum botar defeito.

 

Quadra 2: A quadra mais tribal. Começa já de tal forma. Com as percussões de Capital Enslavement. Mais com um sabor diferente, com orquestras, mas tem lá os índios cantando e tal. Tinha tudo para ser uma música que não me agradasse tanto. Coisa pessoal minha. Acho que o Sepultura já esgotou essa fórmula, e não me importaria se não fizessem mais. Porém a música fica bem boa na medida em que vai crescendo, e tem um baita refrão. Ali é a próxima música. Não passa de uma música ok para mim. Bastante groove, lembra bem os tempos de Chaos Ad. Aliás, esse lado é total Roots-Chaos AD. Com exceção da próxima, que para mim é uma jóia!! Raging Void, que maravilha de música! Mastodon influenciando Sepultura? Oras, mas por que não? Refrão melódico sensacional, rifferama doida durante os versos com um ritmo pesadão e cadenciado, uma das melhores do disco pra mim e salva esse lado que soa bem menos empolgante que o primeiro.

 

Quadra 3: Talvez a quadra mais difícil de descrever. Tem bastante experimentalismo. Guardians of Earth começa com o Andreas debulhando um violão, e na primeira audição achei que seria uma peça instrumental, mas entra uma coisa tão épica, que é uma música que me deu até medo. Jamais pensei que os caras fariam uma música assim. È estupidamente boa, mas é muito diferente de TUDO que o Sepultura já fez. The Pentagram é uma instrumental bem bom e maroto, a exemplo do disco anterior com a excelente Iceberg Dances. Aqui repetem a dose, mas com um som totalmente diferente. Mas ainda sim muito bom.  Autem encerra o lado com um pouco mais de normalidade. Tem um bom refrão melódico e grudento do Derrick, mas tem seu lado brutal também. Uma faixa mais a cara do Sepultura, dentro do possível.

 

Quadra 4: A mais climática do disco. Faixa homônima é apenas uma rápida vinheta, mais uma vez com Andreas tocando violão clássico (para quem não sabe, o cara destrói nessa área). Agony of Defeat é outra das minhas favoritas. Que música foda, me lembrou, pasme, Faith no More! Isso demonstra o quanto os caras ousaram nesse disco. Que faixa maravilhosa, que ambientação foda, e Derrick cantando muito! Para encerrar, Fear, Pain, Chaos, Suffering. Apesar do nome, temos mais uma música lenta. Participação da Emmily Barreto, vocalista do Far From Alaska. Ficou muito bom o contraste da voz dela com a do Derrick, e a música apesar de não me impressionar, é boa.

 

Veredicto: A caminhada á passos firmes do Sepultura em direção ao prog e o experimentalismo é uma realidade. O nível técnico absurdo também. Resta saber se isso te agrada ou não. A mim agrada em alguns aspectos, e me deixa um pouco preguiçoso em outros. Como citei no começo da resenha, às vezes acho exagerados os coros, orquestrações e corais. Mas não se pode negar a evolução da banda, e que um disco desses só poderia ter sido gravado com essa formação. Me agrada muito mais do que os discos iniciais da era Derrick, e apesar do meu favorito dessa fase ainda ser o Kairos de 2011, não dá pra negar a fase maravilhosa que esses caras vivem. 8 caveirinhas e meia!