Texto por Daniel Ribeiro.
Quando falamos do Queen, sempre nos vem à mente os clássicos como “Bohemian Rhapsody”, “Somebody to Love”, “We Will Rock You”, etc. Mas a verdade é que poucos conhecem o começo obscuro da banda, antes do som único da guitarra do Brian May e as melodias e baladas poderosas no piano do Freddy definissem o Queen como uma entidade viva e pujante do Rock. Antes de estourar nas paradas americanas com o hit inovador Killer Queen, a Rainha era uma pequena banda que se esforçava para ter sucesso no Reino Unido. Com algumas fitas demo e poucas sessões de gravação a banda lançou o seu disco de estreia que incluía 2 singles em 1973, e pessoalmente podemos dizer que não era um som tão agradável, parecendo mais uma tentativa de misturar Led Zeppelin e The Who do que um embrião da originalidade e do som único que eles desenvolveriam no futuro.
Determinados a se superar com sucesso e criatividade, Queen retornou ao estúdio menos de um mês após o lançamento de seu álbum de estreia. Agora, desenvolvendo um som com a sua assinatura, a banda começaria a experimentar harmonias vocais sobrepostas a sons de guitarra. O resultado foi o Queen II, um dos lançamentos mais confiantes e mais fortes de toda a carreira do grupo. Com a famosa foto de capa em forma de diamantes (que a banda mais tarde aproveitaria para os videos musicais de "Bohemian Rhapsody" e "One Vision"), esse disco maravilhoso geralmente explora temas mais obscuros como magia e fantasia, algo que a banda acabaria por deixar um pouco de lado durante sua carreira.
Bom, tendo dito tudo isso, acho que é hora de começar a falar um pouco sobre as músicas.
O lado A abre com um instrumental curto, uma marcha fúnebre composta pelo Brian May chamada “Procession”, de pouco mais de 1 minuto. Procession é uma mistura de overdrives de guitarra que só a Red Special é capaz de proporcionar. A sensação que tenho ao ouvir essa música é a de que estou num cemitério, passando por um túmulo enquanto a chuva cai sobre a minha cabeça. Ok, um pouco específico demais.
De “Procession” seguimos para “Father to Son”, uma música lindamente conectada à primeira começando praticamente com os mesmos vocais, dando a sensação de que a outra era uma introdução a essa belíssima obra, que considero um dos grandes momentos do álbum, principalmente pela bateria poderosa do Roger Taylor e uma pegada bem mais heavy do que o usual no meio da música. Quando essa guitarra mais pesada termina, temos um momento maravilhoso com piano (e a identidade do Queen se formando) para ser seguido novamente com a pegada forte da guitarra e termina com um coro emocionante, talvez o melhor do álbum. O ponto “fraco” da música são os vocais do Freddy que estão um pouco baixos, mas de qualquer forma, é uma música incrível, bem como a que a segue, na mesma pegada de continuidade, “White Queen (As it Began)”…
Essa é uma balada mais lenta, também do Brian May, com uma bela guitarra e violões acústicos, que são seguidos por um vocal do Freddy… ah esse vocal… confiante, limpo, lindo, que logo se junta à guitarra novamente e à cozinha perfeita do Deacon e do Taylor, outra música maravilhosa desse disco.
Após esse momento mais obscuro e reflexivo do álbum, vem uma das músicas mais inovadoras do disco, “Some day one Day”, outra balada acústica e a primeira cantada pelo Brian May, com uma letra muito mais otimista trazendo um alento colorido a um álbum essencialmente “dark”. Para os fãs do Queen, essa música tem algumas co-irmãs nos 3 álbuns seguintes: “She Makes Me”, “39” e “Long Away”. Bom, de qualquer forma, essa música é brilhante mesmo sendo minimalista, e a natureza otimista da musica dá uma sensação de que o May está avançando como compositor e a linha de baixo do Deacon é tão limpa e simples, que somente a abrilhanta mais.
Mas, como nem tudo na vida é perfeito, alguma coisa tinha que dar errado (e o Queen sabe como fazer isso mesmo nos melhores álbuns). A única música cantada pelo Roger Taylor no disco, “A Loser in the End”, é o ponto baixo nessa obra. Não que seja uma música ruim, pois a qualidade vocal é fantástica, mas parece uma música ruim saída de um álbum do Led Zeppelin (e eu amo Led Zeppelin, diga-se de passagem). Pode pular essa faixa, não tem nada a ver com o Queen.
Bom, terminamos o lado A, e começamos o lado B que retoma a qualidade com “Ogre Battle”, que começa com guitarras incríveis, sobrepostas a muitos gritos e à bateria, sendo, sem dúvidas, um daqueles monstros galopantes do Queen, e uma das músicas mais pesadas da banda. Nela já percebemos fortemente a identidade da banda, além da perfeição dos coros do Freddy, Roger e Brian contando a história de uma briga entre ogros. É uma canção grande, pesada e selvagem que termina com uma explosão de gritos, literalmente.
E antes dessa faixa anterior terminar, Mercury entra com “The Fairy Feller´s Master-Stroke”, uma música do Freddy inspirada em uma pintura, bastante experimental e talvez não seja bem o tipo de música que agrade a todos os públicos, mas eu particularmente gosto dessa experiência, principalmente porque o final dela é o começo de uma das minhas músicas favoritas do Queen (do mundo e da face da Terra).
"Nevermore" é uma balada com a assinatura do Freddy Mercury, com harmonias vocais sobrepostas e um piano delicioso. Minha reclamação e lamento é que essa música dura pouco mais de 1 minuto, pois deveríamos aproveitar essa coisa linda por muito mais tempo. Bom, pra isso serve o botão repeat.
Agora vem uma das maiores músicas do álbum: "The March Of The Black Queen". Uma das canções do Queen mais adormecidas e subestimadas de sua carreira, The March é um poderoso labirinto de áudio, fazendo uso da técnica de overdubbing para criar um caos completo de piano e guitarra no meio da canção. E fora do caos, surge outra seção de piano de Freddie, preparando a entrada da bateria e do baixo, junto com a guitarra. Essa música da a sensação de que vai crescendo e no final se transforma em um hino de guerra. Com letras sobre a submissão, poder e o prazer do rei, esta música é como um antecessor (do mal) de "Bohemian Rhapsody", levando-nos a uma montanha-russa musical com todos os tipos de quedas livres inesperadas. Provavelmente a melhor ou segunda melhor música do álbum.
A harmonia vocal no final de "The March Of The Black Queen" agora segue (como você pode ver, este álbum está cheio de segues e medleys) em "Funny How Love Is", uma música que vai fazer você querer enfiar um faca em suas tripas e despedir-se deste mundo. Ela é ridiculamente repetitiva e chata, apresentando os piores vocais de Freddie em toda a carreira e uma melodia musical tão medíocre que deveria ter sido descartada e lançada como single caça-níquel no futuro. Pobre, ruim e o pior momento absoluto do álbum.
Ok, a existência de "Funny How Love Is" como a penúltima música do álbum tem alguma sensação e justificativa teatral. Veja bem, depois de uma música tão desastrosa, ouvir a introdução do piano em "Seven Seas Of Rhye" faz com que o ouvinte se sinta como um herói que retorna para casa para uma última batalha final épica. "Seven Seas Of Rhye" é tudo o que uma pessoa pode querer para a sua vida: é um conto de um deus triunfante que desce do céu para reivindicar o que é dele, é um hino poderoso e de ritmo acelerado de conquista e glória, é uma peça de piano perfeita , é uma canção emocionante e esmagadora baseada na emoção. Não haveria outra maneira possível deste álbum ter melhor música de encerramento. Ela não só é uma música incrível nos aspectos criativos e musicais, foi também o sucesso comercial mais importante da banda até aquele momento, sendo seu primeiro single de sucesso absoluto no Reino Unido e que acabou lançando-os à fama. Melhor música no álbum.
Queen 2 é, definitivamente, um obra essencial para quem procura entender como o Queen se tornou uma das maiores bandas de Rock da história, é a sua adolescência brilhante, onde começamos a enxergar a identidade mágica de Freddie, Brian, Roger e John, e é, sem dúvidas, meu álbum favorito do quarteto.