Texto por Carlos Augusto Monteiro.
Em meados de fevereiro, as redes sociais ficaram em polvorosa com a repercussão de uma matéria do site da Rolling Stone Brasil comparando a parceria da banda carioca LS Jack e o cantor Vinny ao Audioslave, o extinto supergrupo formado no início do milênio pelo falecido vocalista do Soundgarden, Chris Cornell, e por integrantes do Rage Against the Machine. O título da matéria insinuava que a frase teria sido dita por um dos membros do novo projeto, o que não era verdade. Mas a comparação, feita claramente para criar reação negativa da nação roqueira, caiu sob medida no atual ambiente de comunicação digital, que sobrevive em boa parte de matérias viralizadas e produzidas para causar polêmica com conteúdo ambíguo.
“Fiquei muito surpreso com isso. Sinceramente eu já estava achando graça. Mas, na verdade, não é Audioslave. Foi uma questão que foi plantada não sei como, alguém comparou, alguém comprou e publicou, outro copiou e colou. Tanto que as matérias são praticamente idênticas. Não tem nada a ver com nosso som, que é LS Jack”, conclui o baixista Vitor Queiroz, referindo-se ao novo single da banda, “Esquece a solidão e sai”, que será liberado nos serviços de streaming no dia 13 de março e cujo nome havia sido revelado em primeira mão para o Crazy Metal Mind.
O lançamento é precedido por uma esperta campanha de divulgação nas redes sociais, que joga com a expectativa e curiosidade dos fãs da banda. Até agora, apenas pequenos trechos instrumentais de novas gravações do grupo foram liberados.
“O som do single é mais LS Jack do que nunca. A estrutura harmônica e a sonoridade em si têm uma ligação forte com tudo o que já foi feito por nós”, diz Vitor.
O LS Jack surgiu no final da década de 90 fazendo um som próximo ao estilo chamado de “acid jazz”, em voga na época e popularizado por nomes como Jamiroquai. Sob a alcunha de “L´Acid Jazz”, o grupo começou tocando em casas de shows no Rio e tinha até o saxofonista Alessandro Barros na sua formação inicial. Após dois discos de estúdio, Alessandro saiu da banda e a sonoridade do grupo seguiu para o pop rock e contando sempre com instrumental competente e boa produção, além do carisma do vocalista Marcus Menna. Em 2002, foi a época do hit “Carla”, até hoje na memória musical dos brasileiros.
No entanto, uma tragédia pôs um fim prematuro à banda. Em 2004, durante uma lipoaspiração, Marcus sofreu complicações cardiorrespiratórias e ficou em estado de coma. Em seguida, teve sérios problemas de coordenação motora. O acidente atrapalhou a divulgação do álbum “Jardim de Cores” e, em 2005, a banda anunciou seu fim, devido ao delicado tratamento de Marcus. Os demais integrantes formaram então O Salto, junto com o vocalista Fábio Allman (ex-A Bruxa e Monobloco) e lançaram "A Noite É dos que não Dormem". Nesse período, os demais integrantes também retomaram um projeto antigo em que tocavam músicas do Rush por bares cariocas.
Em 2010 a banda ainda ensaiou uma volta com uma turnê especial com Marcus, tocando em algumas cidades ao longo daquele ano. De lá para cá, não se reuniram mais. O vocalista tem feito alguns shows solo com mais frequência desde 2019 e passa por um período de retomada da carreira.
Por que então não chamá-lo para esta volta? O baixista Vitor explica que a ideia do novo projeto surgiu de um jantar que teve com Vinny, seu amigo pessoal e antigo parceiro da banda. Na ocasião, ao externar o desejo de voltar a produzir coisas novas, Vitor recebeu do amigo a proposta de também fazer parte. Após refletir sobre a possibilidade, o baixista diz que foi como “um clique”. “Desde esse momento mergulhamos num processo de composição em que a chama reacendeu com força e fez com que a gente voltasse muito nosso foco para produzir conteúdo autoral”, conta. “O Marcus tem uma agenda de shows e seguiu sua carreira. Temos acompanhado e está sendo muito legal para ele”, pondera.
Ao saber da volta do LS Jack com Vinny, Marcus postou em suas nas redes sociais um texto, dizendo que está “100% focado” na carreira solo. “Sou grato por tudo que conquistamos juntos, mas hoje estamos em caminhos diferentes”, afirmou. O vocalista termina o texto desejando sucesso aos antigos companheiros.
Quem também não voltou nessa nova formação foi o guitarrista Sérgio Morel, hoje com uma concorrida agenda na banda de apoio da gravação dos realities shows da TV Globo, como “The Voice”, “The Voice Kids” e “Popstar”.
Quem vai assumir parte das guitarras e violões, junto com Sergio Ferreira, é o próprio Vinny. Eternamente associado ao hit “Heloísa (Mexe a Cadeira)”, seu último álbum passa longe desse registro: é um projeto chamado Vinny Rockabilly Trio (2018), em que toca contrabaixo acústico. “Vinny é um baita instrumentista. As pessoas conhecem de uma forma geral o lado em que ele ficou muito exposto com a ‘Heloísa (Mexe a Cadeira)’. Mas conheço a fundo sua profundidade artística e as pessoas vão se surpreender em vê-lo como músico. Nossa identidade sonora se soma a essa curiosidade, que está provocando nas pessoas, de ver como vai soar o Vinny com o LS Jack”, garante o baixista. A formação original é completada pelo baterista Bicudo.
Vitor explica que a proposta é começar aos poucos, lançando o novo single no dia 13/3, para seguir no processo de composição e montar um show. “Como gostamos muito do resultado da música, provavelmente devemos lançar outra, mas vamos atravessar a ponte quando ela vier. Estamos querendo descobrir e ver como vai ser esse caminho. Acho que vai ser florido, a história está bonita, todos estão consentindo e abençoando esse momento, então acho que pode vir coisa boa aí”, filosofa.
“Nós tocamos juntos desde de que eu tinha 15 anos, vou fazer 50. Já estou velho barbado e toco com esses caras há muito tempo. Existe um rosto e esse rosto é a imagem da nossa banda. Somos fãs do Vinny. Esse respeito e essa identificação se transformou em algo novo. É uma coisa muito boa que está acontecendo”, finaliza.