Texto por Daniel Ribeiro.

Para muitos fãs de música, Chicago é uma banda de soft rock, perdida no meio de tantas outras e que nunca teve muito destaque. Suas baladas são a melhor definição de programação de rádio adulto-contemporânea e suas músicas pop são a trilha de fundo perfeita para a recepção de um consultório odontológico.

Para mim, um fã confesso, essas generalizações reduzem a banda e são um baita demérito. Esse grande grupo da cidade de Chicago foi o criador de uma obra desafiadora, bem organizada e profunda desde o seu começo. Eles foram pioneiros de alguns arranjos mais interessantes da história do pop/rock, e abriram as portas para vários outros grupos que seguiram sua inspiração.

É interessante falar que nos anos 60/70 o Miles Davis atingiu o estrelato aproximando o Jazz cada vez mais do Rock. Chicago fez o caminho contrário, trouxe o Rock cada vez mais próximo ao Jazz, e isso foi uma das coisas mais lindas já feitas no mundo musical. Eles também foram pioneiros no uso de instrumentos de sopros e naipes de metais no Rock, há mais de 50 anos, no seu álbum de estréia: Chicago Transit Authority – que também era o nome inicial da banda.

Nesse primeiro álbum, que fora Platina Duplo, já se percebia claramente a identidade do som que viria a consagrá-los entre os gigantes da música e tinha no seu tracklist sucessos como "Begginings", "Does Anybody Really Know What time it is?", "Questions 67 & 68" e "I’m a man", todos hits obrigatórios em qualquer coletânea da banda.  Existe uma história interessante da época, quando Jimi Hendrix viu a banda tocar em 1968 no Whisky a Go Go em L.A., ele afirmara que o set de sopros parecia um pulmão palpitante e que o guitarrista da banda (Terry Kath, morto em 1978) era muito melhor que ele mesmo tocando.

Chicago é o tipo de banda, que quanto mais você coloca a agulhinha da vitrola pra tocar seus vinis, mais você se apaixona pela mesma. Seus três primeiros discos são obras-primas definitivas do soft Rock, Jazz Rock, Pop maravilha, ou qualquer alcunha que você queira colocar, e eles tem de tudo: baladas suaves, riffs poderosos de jazz-rock, melodias cativantes e belíssimas harmonias vocais.

No álbum Chicago II está uma das canções que fez o Slash (sim, o do GNR) se apaixonar pela guitarra: "25 or 6 to 4" – ele menciona em sua biografia que passava horas com seu instrumento tocando o riff da música quando era adolescente. Boa, Mr Saul Hudson! Também destaco "Make me Smile" e "Colour my World" desses primeiros discos.

Ok, se até agora eu não consegui fazer vocês ouvirem Chicago, vou tentar mais uma vez. O principal vocalista da banda, Peter Cetera, é também o cantor da música-tema de Karate Kid (o do Daniel San, não o do filho do Will Smith), "Glory of Love". Cetera ficou na banda até 1985, sendo substituído pelo filho do baixista do Elvis Presley no vocal e baixo. Muita gente com pedigree junta, concordam?

Uma coisa interessante também nos álbuns desse grupo maravilhoso, é que a sensação que dá é que você está ali, no show deles, mesmo nos discos de estúdio. Não sei se os instrumentos foram gravados em canais separados, mas a impressão é de que a banda está toda em uníssono, cordas e metais, todos tocando juntos e isso foi algo que se perdeu um pouco na sonoridade deles nos anos 80, onde os sopros foram relegados ao segundo plano, como uma forma de se adaptar a uma nova sonoridade, em músicas como: "Hard Habit to Break", "You´re the Inspiration" e "Look Away", para citar alguns dos clássicos.

A verdade é que a discografia do Chicago nunca envelheceu e muito menos ficou datada, a banda sempre foi obcecada pela excelência musical e todos seus álbuns são sólidos e parecem ter sido produzidos e tratados com bastante cuidado. Talvez essa seja a razão pela qual estão continuamente em turnês desde 1967, sempre com um público fiel e conquistando novos fãs, não estando muito preocupados em seguir a moda ou modificar seu estilo, mas sim se adaptando ao que vai surgindo de novo e mantendo sua essência musical. Eu, pessoalmente, aconselho todos a ouvirem os hits "No Tell Lover" e "Saturday in the Park" para entender bem do que estamos falando, além das maravilhosas "Dialogues (Part 1 & 2)" do álbum Chicago V de 1972, onde dois estudantes universitários com posicionamentos ideológicos distintos conversam sobre os rumos que o país estava tomando. A clássica história da vida imitando a arte, ou vice-versa.

Bom, 2017 marca o 50º ano que o Chicago está na estrada, e dessa vez com outra banda maravilhosa os acompanhando, o Doobie Brothers, e sinceramente, não consigo imaginar uma razão sequer para que parem de excursionar. Em 2014 enquanto estavam na estrada, lançaram o álbum XXXVIII, chamado Now onde percebemos que a banda não está interessada em lançar super hits, mas somente agraciar sua legião de fãs com um material novo e de muita qualidade, sem compromissos radiofônicos ou com paradas de sucesso.

Se por algum momento você se pegou assistindo filmes (de ação, romance ou drama), ouvindo rádio enquanto vai ao trabalho ou à faculdade, ou simplesmente respirando oxigênio no planeta Terra, você certamente já ouviu uma dezena de músicas desse pessoal, o que me leva a crer e afirmar que Chicago é uma das maiores e mais subestimadas bandas de Rock da história.