Texto por Carlos Augusto Monteiro.

Quem vê hoje “Sir” Rod Stewart, recém-condecorado com esse título britânico pelo próprio príncipe William, não imagina que esse senhor com cabelo de Ana Maria Braga já foi símbolo de rock criativo e música de raiz folk.

“Maggie May”, seu primeiro e cativante sucesso solo, composto junto com Martin Quittenton,  teve o reconhecimento que merece ao entrar este ano no Grammy Hall of Fame.

Quem já viveu algumas décadas teve a oportunidade de presenciar o inglês beberrão de ascedência escosesa fazer de tudo. Plagiar Jorge Ben, fazer pop, canções mela-cueca, virar crooner careta de clássicos da música americana….

Por isso, é um privilégio saber que lá em 1969 ele compôs uma canção simples mas que gruda no ouvido para sempre. E acabou sendo extremamente importante para seu sucesso nos anos a seguir.

Em “Rod – A autobiografia”, ele conta que a inspiração para “Maggie May” foi quando uma mulher mais velha o “atacou”, aos 16 anos, em uma tenda onde eram vendidas cervejas dentro de um festival de jazz. Rod conta que exagerou e usou a história como inspiração para compor “Maggie May”.

Na letra, como se fossem semanas seguintes ao “ataque”, o protagonista pede que Maggie acorde pois ele precisa lhe contar que estão no final de setembro e precisa voltar para a escola. “Sei que a divirto, mas estou me sentindo usado”, diz. Além disso, o jovem admite que “o sol da manhã quando bate em seu rosto realmente revela sua idade”.

Com versos deliciosos como esses, e o senso de humor que lhe é característico, Rod conquistou seus fãs para sempre.

Porém, parte integrante do incrível album “Every Picture Tells a Story”, de 1971, “Maggie May” é bem mais do que uma letra divertida. Guitarras acústicas e bandolins criam uma ambiência sonora muito agradável de se ouvir, ao mesmo tempo sofisticada e simples,  criando um padrão que se repetiria durante os melhores momentos da carreira de Rod Stewart.

A parceria com Martin Quittenton é bastante elogiada em “Rod – A autobiografia”. Stewart diz que ele contribuiu com um “modo inventivo de tocar guitarra acústica”, enquanto coube a Ray Jackson, da banda folk Lindisfarne, cuidar dos bandolins.

Ao final da gravação, feito em apenas dois takes, Rod diz que não levou muita fé que seria um clássico tão grande, tratando-a como apenas mais um trabalho finalizado. Afinal, a música não tem refrão e dura mais que cinco minutos. Como muitos outros hits da história, este também quase ficou fora do álbum.

Acabou selecionado para o lado B do single de “Reason to believe”, esta muito mais provável de virar hit. E, de novo, aconteceu como em outras vezes na história da música pop.  Um DJ norte-americano resolveu tocar o lado B na rádio. Outros DJs acabaram fazendo o mesmo.

Pronto, semanas depois, a gravadora foi obrigada a tornar “Maggie May” o lado A de um single.

A canção atingiu o número um nas paradas dos Estados Unidos e Reino Unido, levando o álbum à mesma posição. Este foi destronado momentaneamente por “Imagine”, de John Lennon, mas voltou logo ao topo.  Em vendas, o single de “Maggie May” só perdeu para “My Sweet Lord”, de George Harrison.

Esse início da carreira solo de Stewart acontecia junto com sua permanência no Faces. Graças a esse sucesso, Rod sentiu-se mais seguro para caminhar com as próprias pernas.

O resto é História!

Ouça neste link a versão original de "Maggie May".

E confira uma apresentação ao vivo de "Maggie May" aqui em vídeo com a letra.

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“Maggie May” entrou para o Grammy Hall of Fame junto com outras 25 canções, entre elas, “ABC”, dos Jackson 5’s, “Changes”, de David Bowie, e “Jailhouse Rock”, de Elvis Presley.

O Spotify tem uma playlist com essa seleção:

https://open.spotify.com/user/thegrammys/playlist/6kfO4qTjpeflor5DqUp4Rh