Por Leandro Pereira.

 

 

Nas minhas garimpagens de bandas crossovers nacionais (estilo que o país sabe fazer como ninguém), me deparei com esse Power-trio de Santos. E que Power-trio! Chega a ser difícil acreditar que somente Leo Mesquita (guitarra e vocal), Guilherme Elias (baixo e vocal) e Victor Miranda (bateria) façam um som tão poderoso.

 


A banda é bem nova, tendo iniciado em 2012, mas mesmo assim tem se destacado bastante no rico cenário da pancadaria brasileira.
“Escorrendo Pelo Ralo” é o terceiro full-lenght da banda, lançado em 2019. O que esperar do som da banda? O nome já diz ao que veio. Pancadaria, thrash/hardcore do começo ao fim. São 17 faixas e meia hora de pura agressão sonora e lírica bem na sua cara. È preciso se destacar bem as letras, em tempos sombrios que vivemos, o protesto dos caras é explícito, direto e tem lado! 

 


Comparando com os trabalhos anteriores da banda, sinto aqui uma evolução no que diz respeito a agressividade. A banda parece incluir certas passagens mais extremas de bateria (os famosos blas-beats) em alguns momentos. Vamos aos destaques:

 


O disco abre como uma tijolada na boca e sobra crítica até para a geração “lacradora” em “Do lacre ao lucro”. A faixa homônima é muito boa e a banda segue despejando ódio em nossa existência (“Vida Medíocre”), nas classes dominantes (“Mais Um Refém"), na mídia que distorce e dissemina informações falsas (“A Lei Da Dúvida”) e no abuso constante de autoridade, como na irônica “Caso Isolado”.  O que me impressiona na sonoridade da banda é a velocidade. A dinâmica dos vocais funciona muito bem, sendo divididos entre Leo e Guilherme. Os riffs de guitarra são matadores, e quem vê os vídeos e shows da banda, sabe o quão animalesco é ver Leo tocar com a guitarra lá em cima e ainda assim vociferar os gritos insanos e incansáveis da banda. 

 


Sonoramente, a meu ver, o disco não surpreende. Até que chegamos em “Virou Brasil Parte 1”. E o que temos aqui meus amigos? Um Samba! Sim, um samba! Curto, mas surpreendente. Obviamente que “Virou Brasil Parte 2” descamba para um hardcore ignorante e furioso, trazendo o disco de volta aos eixos.

 


Pra mim a reta final do disco é o grande destaque. “Madeira e sangue” é uma porrada e uma homenagem aos que lutam pelo meio ambiente, que termina em um “Bate-estaca” stoner lindo. A faixa “Bom Dia Senhor” é cadenciada, com um instrumental no melhor estilo Biohazard e traz uma letra primorosa narrando a história de um operário que vai fazer um serviço na casa de um ricaço. A linha tênue entre a educação servil e cordial e a vontade da agressão física devido ao ódio pulsante dá o tom da melhor música do disco em minha esférica opinião.

 


O disco termina com “A Troco De Nada” precedida por trechos do saudoso apresentador das “Provocações” Antônio Abujamra. 
Enfim, não acho exagero dizer que esse é o melhor trabalho da banda, apesar de ser extremamente fã do “Tamo Na Merda” de 2016. O Surra já é realidade. Confira sem medo, se você gosta de agressão sonora e lírica.