Texto e fotos por Carlos Augusto Monteiro
Como descreve acertadamente o texto de apresentação em seu site oficial, Robert Cray vem fazendo a ponte entre blues, soul e R&B nas últimas quatro décadas como poucos artistas conseguiram fazer. E o mais incrível é que ele cumpre essa tarefa com um senso pop que pode causar estranheza num primeiro momento, e que já lhe rendeu alguns narizes torcidos entre os puristas do estilo.
Porém, ao se assistir ao show realizado na última sexta-feira, no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, faz-se necessário ir além do preconceito para entender a filosofia musical de Robert Cray.
Pois é justamente a bem azeitada mistura de estilos que torna seu som único e deixa o músico livre para transitar musicalmente por onde bem entender. Em sua estante estão cinco Grammys conquistados para provar que suas escolhas estavam certas.
O show iniciou pontualmente, às 21h30, e foi engrenando aos poucos, abrindo com “I Shiver”, de Same + a Sin, e “The Same Love That Made Me Laugh”, do homônimo e mais recente álbum lançado em 2017 com a Hi Rhythm Section, uma famosa banda de apoio de vários artistas da soul music americana na década de 70. Entre eles, ninguém menos que Al Green.
O estilo minimalista do músico, em ótima forma física, aos 66 anos, reflete-se na disposição da banda no palco, todos ocupando o centro, bem próximos, e também na decoração do palco, simples, com iluminação básica, porém bela, principalmente nas cortinas que preenchem o fundo do palco.
A simplicidade está presente também na falta de pedais, pois o músico prefere usar apenas os amplificadores e vibratos da guitarra para produzir efeitos limpos. O retorno do som também é à moda antiga. Nada de fones de ouvido e sim duas caixas de som à sua frente. E que voz ele tem, digna dos melhores cantores de soul, com direito até a alguns falsettos.
O repertório deixa de fora alguns hits, principalmente dos álbuns de maior sucesso comercial do músico, mostrando que Cray realmente segue na contramão das obviedades musicais.
Entre canções do último álbum e mais antigas como “Right Next Door (Because of Me)”, a banda segue bastante entrosada e brilhando nas execuções, com destaque para o tecladista Dover Weinberg, com quem Robert Cray mais dialoga na apresentação.
Claro que não faltou o hit maior “Nothin’ But a Woman”, a penúltima do show, seguida da belíssima “Time Makes Two”, cuja melodia fica ecoando em nossas cabeças vários minutos depois de encerrada a apresentação, junto com a constatação de que Robert Cray segue firme e simples na sua missão de fazer boa música ao longo dos tempos.
Set list:
1- I Shiver
2- The Same Love That Made Me Laugh
3- Poor Johnny
4- You’re Everything
5- I Don’t Care
6- Where Do I Go From Here?
7- You Had My Heart
8- Chicken in the Kitchen
9- I Can’t Fail
10- You Move Me
11- Deep In My Soul
12- Just How Low
13- Right Next Door (Because of Me)
14- You Must Believe in Yourself
Bis
15- Nothin’ But a Woman
16- Time Makes Two