Texto pelo leitor/ouvinte David Dilkin.

 

Os anos 90 começaram turbulentos para os alemães do Helloween. Depois de dois petardos chamados Keeper of the seven Keys Pt I e II, até hoje considerados obras primas do power metal, muito era esperado dos cabeças de abóbora, de Hamburgo. 


E essa sequência chegou em 1991, com o belíssimo, porém injustiçado Pink Bubbles Go Ape. Porém o real problema foi o seu sucessor, Chameleon de 1993, achincalhado pela crítica, e por parte dos fãs, acarretando nas saídas de Michael Kiske e Ingo Schwichtenberg da banda.

 
E a reposição veio em grande estilo, com Andi Deris nos vocais e o velosíssimo Uli Kusch na bateria. Com a missão de reabilitar a imagem da banda, Master of the Rings de 1994, e The Time of the Oath de 1996 (vide Podcast #130), se saem maravilhosamente bem, e colocam o Helloween de volta ao mapa das grandes do metal.


O questionamento que ficava era como não apenas manter a boa forma, mas evolui-la. E assim nasceu o esplendoroso Better than Raw de 1998.


Começando pela capa, de ótimo gosto, com uma bruxa (de gosto ainda melhor) cozinhando o mascote da banda Jack O Lantern, em seu fumegante caldeirão. Possivelmente a melhor capa da história da banda e uma das melhores do power metal em geral.

 
Quanto ao álbum, é extremamente balanceado e com as mais variadas influências, passando do power metal clássico, até flertes com o Hard Rock. Chegando até mesmo a brincar com a música erudita.


Better than Raw se sai bem em absolutamente tudo que tenta. Faz seus 53 minutos de duração passarem como se fossem 10. 


“Deliberately Limited Preliminary Prelude Period in Z” – Apesar do nome com tamanho digno de descrição Tolkieniana é apenas a introdução do álbum. Com um começo quase que sussurrante, ela ganha corpo, e em um crescendo gigantesco, deixa o ouvinte em ponto de bala para o que vem em seguida, a pesadíssima Push. Com um  dos riffs iniciais mais viscerais da história da banda, seguido por um Andi Deris cantando de forma brutalmente agressiva, mas voltando a dar espaço para a melodia no refrão. Um solo inspiradíssimo de Roland Grapow ainda completa a faixa. 


E se Push deixa o ouvinte embasbacado com a mescla de velocidade, melodia e peso, o que vem a seguir eleva isso a enésima potência. Trata-se da terceira faixam, Falling Higher (que na humilde opinião deste que vos fala é a MELHOR FAIXA da discografia da banda). Melodiosa, rápida, inspirada, cativante. Os convido a buscar outros adjetivos que descrevam essa belíssima canção, pois eu poderia tecer dezenas de elogios.

 
WHEN WORLDS COLLIDE, WILL STAND STRAIGHT IN TURMOIL AND FEAR!!! \,,/ \,,/ \,,/


"Hora de pisar no freio, e cantar junto", assim podemos descrever a quarta canção, a grudenta e agradável Hey Lord! Impossível não sair cantarolando “Hey Lord, hey loooord” depois de ouvi-la. Possivelmente a mais Hard e de fácil assimilação, de todo o álbum. 


Don’t Spit on my mind chega com a melhor letra do play, com uma crítica ferrenha à política e formas de controle de massas. A faixa é muito bem conduzida por Deris que é um dos pontos altos aqui, destilando muito veneno e sarcasmo em seus vocais. 


A esquizofrenía fala mais alto em Revelation, a sexta, e mais longa do álbum. Do alto de seus 8 minutos de duração, passa por uma intro tipicamente power metal, lembrando Blind Guardian, chegando a um conto de fadas, mas sendo demolida por uma serra elétrica violentíssima de Mikael Weikath. Caminhando por um Helloween clássico, voltando ao peso excessivo, e se perdendo em uma quebra de compasso de difícil compreensão. 


Mas se os alemães nos levaram a uma montanha russa de sensações em Revelation, com a faixa seguinte, eles pegam em sua mão e te carregam por uma emocionante viagem pelo tempo. Se trata de Time, a balada heavy do álbum. Com conotação cristã tem o feeling mais apurado do álbum, e novamente Deris dá um show nos vocais.


Estabilizando os batimentos cardíacos, I Can chega com a tentativa de tirar os pés do ouvinte do chão, e apesar de não ser a melhor faixa do disco, cumpre bem sua proposta, com um refrão extremamente pegajoso e de fácil repetição. 


A nona, A Handful of Pain (ou como carinhosamente a chamo, Hey Lord Part II). Riff sensual sendo carregado por um Andi Deris bonachão. É outra que martela no seu cérebro por horas depois de ouvida, com direito a coros femininos no refrão.


Se aproximando do fim da bolacha “Laudate Dominum” é a faixa bônus encaixada no tracklist oficial. Cantada totalmente em latim, é uma boa homenagem à música erudita admirada pelos membros da banda. Pode causar estranheza aos novatos no power metal.


Encerrando a viagem da formosa bruxa, Midnight Sun cumpre bem seu papel e define com esmero o que é o álbum. Balanceada, melodiosa, inspirada e rápida, a canção fecha muito bem o play. Mostrando uma banda afinadíssima. E o lançamento que tinha a difícil missão de evoluir a fórmula muito bem executada dos dois álbuns antecessores o fez com maestria.


Sem mais delongas, 9,5 caveirinhas do CMM a essa refinadíssima obra, que ousa, brinca, emociona, faz o sangue borbulhar, e em nem um momento decepciona o ouvinte.


Hey Lords! (e ladies), estão esperando o quê pra dar uma chance a essa maravilhosa bruxinha?

Tracklist:
1 – Deliberately Limited Preliminary Prelude Period In Z
2 – Push
3 – Falling Higher
4 – Hey Lord!
5 – Don’t Spit on My Mind
6 – Revelation 
7 – Time
8 – I Can
9 – Handful of Pain
10 – Laudate Dominum
11 – Midnight Sun