Texto por Carlos Augusto Monteiro. Foto por Mariana Luiza.

O poema “O Fortuna”, escrito em latim por Carl Off por volta de 1200, é uma homenagem à deusa romana da sorte e da esperança. Carl Off compôs a música para esta obra e a colocou como parte de Carmina Burana, a famosa e sinistra cantata que perfeitamente introduziu o som ambiente do último show no Brasil da carreira de Ozzy Osbourne, realizado neste domingo (20/5), no Rio de Janeiro (Jeunesse Arena).

Curioso notar que um trecho de “O Fortuna” relata que “a sorte na saúde e virtude agora me são contrárias”. Mas, apesar do histórico pessoal, e muitos altos e baixos, a saúde e a virtude não são contrárias a Ozzy. O homem pulou, fez polichinelo e agitou a galera durante boa parte do show de 1:30, com uma pequena pausa para solos de sua banda de apoio enquanto se ausentou do palco. O eterno Príncipe das Trevas apresentou vários hits próprios e alguns do Black Sabbath, em execuções rápidas e pesadas.

O início foi pontual, às 20:30, com a arena parcialmente ocupada (graças a várias promoções no valor dos ingressos). Primeiro, um vídeo no imenso telão com cenas da carreira de 50 anos. Em seguida, de cabelo escovado longo e uma espécie de capa azul brilhante, Ozzy surge no palco e decreta: “Let the madness begin”! (Deixe a loucura começar”).

É a deixa para um dos maiores hits de Ozzy nos anos 80: “Bark at the moon”. Nessa primeira canção, no entanto, o som ainda não estava muito potente e foi um pouco frustrante o hit não ter tido o peso que merece. Coube a “Mr. Crowley”, a próxima música, trazer esse peso após a introdução com seu incrível e característico teclado. Teclado, aliás, de Adam Wakeman (sim, filho da lenda Rick Wakeman). Nessa canção, também, deu pra ouvir muito bem o baixista Blasko.

Foi durante a primeira parte do show que veio a primeira do Black Sabbath, “Fairies wear boots”, que, com o telão e suas imagens psicodélicas, levou o público de volta aos anos 70. A projeção, aliás, dava um toque todo especial ao show. À frente dele, uma enorme cruz também servia de tela, projetando imagens diferentes do telão principal e criando um efeito incrível.

A apresentação foi num crescendo e encontrou seu clímax na maravilhosa “No more tears”, que dá nome ao show e à turnê, um repeteco da mesma turnê dos anos 90 e que já era sua despedida. Muita água rolou desde então na carreira do Ozzy, e canções como a bela “Road to nowhere” e outras como “Suicide Solution”, “Shot in the Dark” e “I don´t wanna change do world” comprovam que seus 69 anos foram bem vividos.

Depois do medley instrumental executado apenas pela banda, junto com solo de guitarra e bateria dos competentes (e ogros!) Zakk Wylde e Tommy Clufetos, o show pareceu entrar num piloto automático, com as canções se emendando umas nas outras. Fez bastante falta, por exemplo, o grito de “all aboard”! no início de “Crazy Train”, que fechou a primeira parte do show.

Um rápido intervalo trouxe o bis com a balada “Mama I´m coming home” e o clássico “Paranoid”, a última do show e terceira do Sabbath na noite (a outra foi “War Pigs”).

Era o fim de uma apresentação muito bem executada, mas que teve um pouco de aparência de último show mesmo. O que não é de todo ruim, levando-se em conta que Ozzy fez polichinelo, jogou balde com água na plateia, exigiu que todos gritassem mais alto e deu até uns pulos. Disposição invejável para um senhor que já fez de tudo nessa vida e tem o privilégio de encerrar a carreira de shows em alta.