Texto por Carlos Augusto Monteiro

 

Um certo dia de 1986, na cidade de Charlotte, nos Estados Unidos, o ainda pré-adolescente Christopher Hilton ouviu a fita cassete de um amigo com o álbum “Theatre of Pain”, do Mötley Crüe, e tudo mudou para ele. Estava plantada ali a semente para uma paixão que já dura 35 anos. “Ser fã de hard rock e heavy metal nos anos 80 era como ser membro de uma sociedade exclusiva”, relembra.

 

Agora, em 2020, Chris está lançando o livro “The Rise, Fall and Rebirth of Hair Metal”, contando a história cronológica (e emocionante) do gênero, que é ridicularizado por muitos e amado por tantos outros. 

 

Confira abaixo nossa entrevista com Christopher Hilton:

 

O nome “The Rise, Fall and Rebirth of Hair Metal” é tão pomposo como boa parte da música feita nos anos 80. E foi bem interessante você ter escolhido escrever a história em ordem cronológica, com cada ano em um capítulo. Por que você escolheu esse formato?

 

Eu queria contar a história do gênero, não apenas a de um monte de bandas. Já existe muito disso por aí, como as ótimas biografias do Sebastian Bach e Steven Tyler, entre outras.

 

Mas o que não havia sido contada ainda era a história do gênero como um todo. E é uma saga muito interessante não só para fãs de música, mas de qualquer boa história, no sentido de que compreende um arco com três partes. Primeiro, a incrível ascensão para a dominação comercial nos anos 80 junto com o auge no fim da década e início dos 90. Depois, a impressionante queda e decadência, quase uma extinção, em meados dos anos 90. Por fim, o caminho para um legítimo renascimento no novo milênio.

 

Por isso, fazia sentido contar a história cronologicamente porque quase todas as bandas estavam passando pela mesma situação e vivenciando os mesmos momentos juntas. 

 

Não dá para falar de hair metal sem falar de grunge. Você não acha que depois de tanto tempo, o hair metal hoje está mais vivo que o grunge?

 

Se você perguntasse a essas bandas dos anos 80, elas não imaginariam que ainda estariam tocando 40 anos depois. E ainda mais um gênero que era tão ridicularizado no seu auge e, ainda, levando em conta a grande popularidade que o grunge teve nos anos 90. 

 

Realmente, eu diria que 75% das bandas dos anos 80 ainda está tocando, talvez não com suas formações originais. Por outro lado, não se vê muitas bandas grunge em turnê.

 

Se o concurso fosse de qual estilo de música sobreviveu ao tempo, eu diria que o hair metal ainda tem um poder legítimo, que o grunge não tem.

 

É interessante que boa parte dos fãs norte-americanos, por terem visto muitos shows das bandas no auge, são movidos hoje pela nostalgia. Já aqui na América do Sul, não se via as bandas no auge, então muitas vezes ainda vemos uma banda ao vivo pela primeira vez.

 

Quando falamos de nostalgia, é porque, para o fã casual (que representa quase 90%), esse tipo de música significou muito para quem cresceu naquela época.

 

Ser fã de hard rock e heavy metal nos anos 80 era como ser membro de uma sociedade exclusiva. As pessoas se reuniam por compartilharem do mesmo gosto e pelo sentimento de pertencer a um grupo especial. 

 

Contribuía muito o incrível espetáculo das bandas naquele tempo, as músicas baseadas em hinos, o apelo universal. Tudo o que havia eram grandes guitarras, refrães pegajosos, grandes vocais, brilho, a moda e o estilo de vida (ou o exagero e extravagância, se preferir). Ou tudo junto.

 

Por isso, o apelo que fez o gênero ser longevo é a nostalgia. As pessoas curtiram esse tipo de música quando eram jovens, nos seus 20 anos, e agora já não somos tão jovens, estamos nos nossos 40, 50 e alguns até mais velhos.

 

E você tem a vontade de reviver os dias de glória da sua juventude. E também necessidade de um contínuo sentimento de escapismo.

 

As pessoas podem não estar mais seguindo as bandas ou comprando álbuns, mas certamente estão dispostas a participar de um show de sexta ou sábado à noite, de algo que significou muito pra eles na juventude, com canções que podem cantar junto, e sentirem- se jovens de novo. Então, muito disso é nostalgia.

 

E as bandas estão felizes em atender esse sentimento. Algumas podem ter vontade de serem mais do que isso, mas ao mesmo tempo estão cientes da realidade da situação.

 

Outra característica interessante é que você contou as histórias do ponto de vista do fã. Por que escolheu esse foco?

 

Eu quis escrever do ponto de vista do fã porque eu queria que fosse autêntico. Caso contrário, teria sido apenas uma coleção de histórias, que qualquer um poderia ler. Era só colocar vendagens, títulos de álbuns, algumas histórias de celebridade. Qualquer pesquisador poderia ter escrito esse livro. Mas, para isso, tem a Wikipedia.

 

De propósito, não fiz muitas pesquisas. Sou um grande fã do gênero, li muitos livros e revistas. Tenho uns 2 mil CDs de hair metal. Algumas coisas eu precisei olhar, como o número de vendagens, datas de lançamento de álbuns, ou declarações exatas.

 

Mas realmente queria que o livro fosse mais que isso. Uma obra escrita por alguém que tem paixão pela música, viveu através dela, e ainda vive.

 

Eu descobri seu livro por acaso, navegando no site Metal Sludge, quando vi o banner para a Amazon. Assim como o gênero, que segue vivo, embora no underground, acho que a história sobre ele acaba dando um jeito de chegar às pessoas que se interessam por ela. 

 

Espero mesmo que isso aconteça. Eu escrevi para fãs da música, não para ser escritor de carreira, muito menos fazer dinheiro, ainda mais com livros sobre hair metal (risos). Mas este era realmente o livro que eu queria que alguém escrevesse para eu ler. 

 

Tenho percebido algumas reações semelhantes, em sites como o Metal Rules e Focus on Metal, de muita satisfação dos fãs em poder comentar sobre aquela época, tendo seu livro como base. Acho que reler essas histórias foi muito prazeroso para todos os fãs do gênero.

 

Fico feliz pelo feedback, mas, como autor, não mereço nenhum crédito. São as bandas e as músicas, eles merecem todo o crédito, por terem criado algo tão incrível, sobre o qual falamos e com que nos divertimos até hoje!

 

Leia mais em: www.hairmetalforever.com