Texto por Carlos Augusto Monteiro.

A Netflix, cada vez mais empenhada em oferecer produções originais de alta qualidade, tem em sua grade um documentário perfeito para os fãs de rock clássico: “Keith Richards, Under the Influence”.

A proposta do doc é levar a uma viagem à gênese do guitarrista dos Rolling Stones como compositor, músico e performer. Junto com Keith, somos transportados de volta à música que o inspirou no passado e continua estimulando-o hoje. O resultado é uma salada de blues elétrico, country rock, e southern soul entre outros gêneros. E acompanhamos tudo isso enquanto Keith cria seu primeiro álbum solo em 23 anos.

Apesar do vocalista saltitante, os Rolling Stones tem em Keith seu integrante mais carismático. Ele faz dupla nas guitarras com outro cara super cool, Ron Wood, parceiro de longa data de Rod Stewart nos Faces. Mas quem brilha mesmo na banda é o coroa cheio de rugas e cigarro pendurado na boca, famoso pela lenda de que é imortal.

O motivo mais justo pelo qual Keith é admirado é seu talento musical. “Under the Influence” mostra que se inspira desde Beethoven a Muddy Waters. O saudoso bluesman aliás é assunto de uma história muito boa. Keith sempre foi fã de Waters e acabou encontrando-o certa vez na Chess Records.  O autor de “Mannish Boy” então soltou a frase que emocionou Keith: “Obrigado pelo que estão fazendo”.

Ele se referia ao modo como os Rolling Stones valorizaram a música negra e fizeram os Estados Unidos relembrarem os pioneiros do blues.  “Nosso interesse era só divulgar”, diz no documentário o modesto guitarrista dos Stones. A visita à casa onde Muddy Waters morou é também divertida, pelas lembranças de uma festa de arromba.

Outro momento bem legal de se ver é Keith jogando sinuca e jogando conversa fora com Buddy Guy, outro monstro americano do blues. Sem falar na antiga gravação de TV em que toca ao lado de Howlin´ Wolf.

Keith é mesmo um músico com “M” maiúsculo. O cara é multi-instrumentista e se arrisca até no baixo. “Devo ser melhor baixista que guitarrista”, brinca.

A filosofia de vida é outro ponto que chama a atenção.  Keith mostra como encara a espiritualidade ao conhecer o Rowan Auditory, onde iria tocar. O local já foi uma igreja mas hoje é uma casa de shows. “Virou um templo do country. Nós todos viemos adorar e rezar pelo melhor. E Deus sabe que todos vieram…”, reflete, com aquele meio sorriso que lhe é característico.

Outros momentos de destaque do documentário são quando  mostra cenas antigas da gravação de “Simpathy for the Devil”, os depoimentos de Tom Waits e a influência do reggae na música do Stone.

Não tem maneira melhor de encerrar esta resenha com o “imortal” músico falando sobre estar envelhecendo:  “O rock n´ roll é isso. Dá a impressão de levitar. Você vive pelos momentos em que pode voar. Continue voando enquanto puder porque é uma das melhores sensações do mundo… Mas escute só, é o que liga. It´s only rock n roll but that´s the shit. Não estou envelhecendo, estou evoluindo”.