Texto por Carlos Augusto Monteiro.

 

 

O mundo do metal nacional e internacional foi pego totalmente de surpresa no dia 25 de abril quando a então vocalista e baixista da Nervosa, Fernanda Lira, anunciou em um post nas redes sociais que estava abandonando a banda. Formada pela guitarrista Prika Amaral há cerca de dez anos, a Nervosa teve o seu auge em outubro do ano passado, ao abrir a “noite do metal” no Rock in Rio e também ia tocar no festival alemão Wacken Open Air, que acabou sendo cancelado este ano por conta da pandemia do coronavírus.

 

A Nervosa contava também com a baterista Luana Dametto, que horas depois de Fernanda anunciou sua saída da mesma maneira, pelas redes sociais. Ambas alegaram desgaste, mas em princípio não ficou claro se estariam na mesma banda. No mesmo dia, Prika anunciou que a Nervosa iria continuar e depois anunciou as novas integrantes Diva Satanica (vocal), Mia Wallace (baixo) e Eleni Mota (bateria).

 

Já a Crypta, nova banda de death metal formada pela Fernanda, Luana, a guitarrista holandesa Sonia Anubis (Cobra Spell e ex-Burning Whitches, cuja saída anunciou ontem) e a guitarrista Tainá Bergamaschi (de Juiz de Fora e ex-Hagbard) era um projeto que existia guardado e paralelamente à Nervosa há cerca de um ano.

 

No início, era apenas como um “refresh”, conforme dito pela própria Fernanda em entrevista à HeavynationBR, pois ambas sentiram necessidade de expressar melhor sua vontade de tocar. Agora, virou a banda oficial das ex-Nervosas e está causando muita expectativa na cena.

 

Luana contou com exclusividade para o Crazy Metal Mind como foi sair da Nervosa, suas expectativas com a Crypta (ela está feliz porque vai tocar composições da qual participou) e suas influências (que incluem The Smiths, Dead or Alive e Rick Astley!).

 

Confira abaixo essas e outras revelações:

 

CMM: Vi uma entrevista em que você disse que tudo que aprendeu sobre o mundo da música (como funcionam os festivais, como se portar, os meandros da profissão etc) você aprendeu com a Nervosa. Como foi sair da banda?

 

LUANA DAMETTO: Foi uma das maiores decisões que tomei na vida, afinal foi a banda que me fez levar a música não só como uma paixão, mas sim levar isso também como uma profissão, um trabalho de verdade. Sou muita grata por tudo que conquistei com a banda, e por ter realizado muitos dos meus sonhos pela primeira vez. Contribuí musicalmente e como designer, e me orgulho muito de ter feito parte disso. Minha história com a Nervosa estará sempre lá nos trabalhos que deixei, assim como muita gratidão por ter dito a chance de fazê-los.


Desde que entrou na Nervosa, você recebeu muitos elogios pela competência e, ao mesmo tempo, serenidade ao tocar. Qual sua expectativa com a Crypta? Algo que você pretende fazer diferente? O que pretende manter?

 

Acho que o diferente na minha vida foi ter aprendido a tocar mais thrash metal, na época em que não sabia muitos (movimentos) básicos do estilo, e acabei aprendendo na estrada. Sempre tive banda de Death, então já estava acostumada com os clichês do estilo, mas tem muita coisa que eu estou trabalhando em evoluir, sou longe de ser um exemplo tocando bateria. Estou estudando bastante coisas novas para implementar nas músicas, e acho que esse vai ser o diferencial, minha evolução no instrumento. Death metal é um lugar onde eu sempre quis estar, e agora que estou tenho tempo de evoluir dentro dele e tentar me tornar uma musicista mais completa.

 

A banda já existia há um quase ano, certo? Já tinha o nome? Pelo menos você e a Fernanda já ensaiavam? Já existia uma rotina "de banda"? Pretendiam torná-la pública (se continuasse paralelamente à Nervosa, por exemplo)?

 

Certo, começou como um projeto, de uma vontade de tocar coisas que não caberiam totalmente no thrash, e para que pudéssemos nos desafiar mais. Não tinha nome, ele veio no decorrer do tempo, mais especificamente quando eu e a Fernanda estávamos na República Checa, na cidade de Brno, e visitamos um ossuário e alguns "undergrounds" da cidade, e acabamos pensando no nome Crypta durante nosso passeio aquele dia. Não existia uma rotina de banda, porque ainda não era uma banda, era um projeto, e enquanto estávamos na Nervosa, essa sempre seria nossa prioridade. Pretendíamos tornar a Crypta pública um dia, mas talvez isso demoraria bastante, e sempre em segundo plano. Mas como acabamos saindo da Nervosa, não teria sentido em não tornar nosso projeto uma banda e mostrar isso para o público.

 

Você acha que vai sentir saudades de tocar músicas da Nervosa nos shows?

 

Não, pois assim como eu fiz o meu melhor com a Nervosa, eu vou dar o meu melhor para a Crypta, os blast beats vão continuar lá, meu jeito de tocar e escrever música continuarão lá, e posso dizer que agora muito mais, pois é uma banda em que eu também ajudei a iniciar. Na Nervosa eu tocava muitas músicas que não foram compostas por mim, o que era completamente normal, mas agora vou ter a chance de sempre ter um set no qual eu participei desde o começo.

 

Foi-se o tempo em que as bandas se formavam nas garagens. Agora é tudo pela internet. Como foi fechar a formação e anunciar a chegada da Crypta durante a quarentena? Como pretendem conciliar turnês (em relação à Sonia), ensaios etc?

 

Fechar a formação aconteceu mais naturalmente do que imaginávamos, eu e a Fê sempre tivemos a Sonia em mente e somos muito fãs dela, então a convidamos a se juntar a nós. Já no caso da Tainá, ela mesma nos enviou mensagem perguntando se ainda tinha vaga na banda. Ela toca super bem e ficamos bem felizes com a entrada dela. Não sabíamos quando íamos divulgar, mas muita gente achou que eu tinha parado com a música e não ia mais tocar bateria, o que está longe de ser uma realidade, então foi melhor anunciar logo para as pessoas saberem que estamos trabalhando em coisas novas e logo estaremos tocando por aí novamente. Vai ser bem tranquilo, fora a Sonia, todas estamos livres para fazer tour quando for necessário, então vai ser só organizar direitinho e poderemos conciliar tudo tranquilamente.

 

– Você sabe usar bem as redes sociais (Instagram, Youtube) e é divertida. Você encara as redes sociais como ferramenta de promoção pessoal? Ou é mais no instinto?

 

Obrigada, eu tento ser eu mesma na internet, pois acredito que não precisamos ter uma imagem séria o tempo todo para sermos profissionais, dá para ser um músico profissional sem parecer que você não tem humor. Encaro as redes sociais como um meio de mostrar meu trabalho e minha evolução, mas também tem coisas que eu posto simplesmente porque quero e acho legal compartilhar, afinal, as minhas redes sociais continuam sendo as mesmas que sempre usei, tenho muito amigos me seguindo, e também quero compartilhar coisas pessoais que meus amigos possam interagir. Faço de tudo nas minhas redes, no final só tento mostrar um pouco mais de mim na internet, do jeito que é na vida real.

 

Quais suas influências na bateria? E influências na música em geral?

 

Na bateria tem muitos, o Aquiles (Priester, ex-Angra e atual Hangar), Eloy (Casagrande, do Sepultura), Krimh (Kerim "Krimh" Lechner, ex-Decapitated, atual Septicflesh), Dave Lombardo (ex-Slayer e que hoje participa de várias bandas, como Suicidal Tendencies e Mr. Bungle)… Tem uma lista enorme de bateristas que adoro assistir, tentar tirar alguma coisa que eu consiga praticar também (risos). Quem é que não gosta de ver esses supermúsicos tocando, não é mesmo? Na música eu tiro influências de tudo, até do que está longe de ser metal, por exemplo, uma das minhas bandas favoritas é o Dead or Alive, não tem nada de metal, mas eu já tirei muito dali. Gosto de The Smiths, King Gizzard and The Lizard Wizard, Rick Astley, Nirvana, Culture Club, St Vincent… Tanta coisa, e sempre dá pra tirar uma ideia ou outra de cada um desses artistas.

 

– Desde que começou a tocar, quanto tempo levou para aperfeiçoar o blast beat que é uma marca sua?

 

Comecei a tocar blasts com 16 anos porque me juntei à banda Apophizys, de death metal. Eu precisava aprender para tocar as músicas que eles já tinha prontas desde antes de eu entrar na banda, então tive que “me puxar” para aprender mais (assim como hoje em dia). Sempre foi bem natural, na época eu nem sabia direito o que estava fazendo, só achava legal e a coisa fluiu, começamos tocando mais devagar, e foi indo até ser o que eu consigo fazer hoje.

 

A Sonia Annubis volta e meia posta vídeos de covers do Kiss, Mötley Crüe, W.A.S.P. etc. Alguma chance dessas influências entrarem no Crypta, ainda que indiretamente?

 

Talvez não musicalmente, assim como musicalmente não posso pegar nada do Rick Astley (um artista que eu gosto, por exemplo), mas com certeza sempre dá para tirar algo de outras formas, alguma foto interessante, uma ideia pra um vídeo, ideias de palco, performance… Tudo, as influências vêm de todos os lugares, e não só dá música, mas dos filmes também.

 

Qual artista ou banda você tem o sonho de dividir o palco e tocar?

 

Power Trip (grupo americano de thrash, com influências de hardcore, formado em 2008 em Dallas). Adoro a banda e queria ter tido a chance de vê-los ao vivo já, mas infelizmente não tive. Acredito que isso ainda vai acontecer em algum festival por aí!

 

E a ansiedade de voltar a ter shows, como está? Alguma meta especial? Crypta no Wacken?

 

Grande, mal posso esperar pra voltar aos palcos e pôr em prática tudo que venho ensaiando. Assim que o “corona” acabar vamos estar tocando de novo. Não sei quanto à Crypta no Wacken ainda porque tudo é muito recente, mas quem sabe um dia, depois do lançamento do disco. Se surgir a proposta a gente vai com certeza!