Por Carlos Augusto Monteiro.

Passei as duas últimas semanas refletindo, lendo e vendo vídeos sobre uma das maiores novidades envolvendo o Kiss nos últimos anos: o reaparecimento do guitarrista Vinnie Vincent, que substituiu o lendário Ace Frehley em 1982.

Compositor de mão cheia, e um instrumentista técnico e ágil, Vinnie estava totalmente desparecido da mídia há 20 anos. E nesse meio tempo, não ajudou em nada que as notícias sobre ele fossem as piores possíveis, incluindo uma prisão em 2011 por agressão à esposa. A casa onde eles moravam foi encontrada toda destruída, e até cachorros mortos num contâiner a polícia achou!!

Mas, apesar de todos esse histórico, os fãs de Kiss ficaram em polvorosa quando Vinnie Vincent ressurgiu em 20 de janeiro, durante uma Kiss Expo em Atlanta. Sua presença já havia sido anunciada e havia muita expectativa pelos fãs.

Quando o guitarrista apareceu, a primeira surpresa! Vinnie estava com um visual bem feminino!

A felicidade dos fãs por estarem revendo Vinnie foi tanta que tal característica não foi abordada por ninguém durante a sessão de perguntas e respostas que aconteceu na Expo. O radialista Eddie Trunk, que teve apenas 20 minutos para entrevistar o músico, disse depois que, caso tivesse tido mais tempo, abordaria a pergunta sobre a escolha de Vinnie estar com aquela aparência.

Fato é que ninguém pareceu mesmo ligar para isso. O que é um ótimo sinal, pois mostra que fãs de rock são pessoas que abraçam as diferenças e defendem o direito de cada um ser e se vestir como quiser.

Durante a Expo, Vinnie Vincent executou três canções em formato acústico, um pouco enferrujado, mas com um clima de paz e amor. Ele cantou e tocou "A million to one", do Kiss, "That time of the Year", do Vinnie Vincent Invasion, e ainda chamou o vocalista original dessa sua banda solo, Robert Fleischman, para cantar "Back on the streets", para delírio dos fãs que aprovaram o dueto (mais pelo significado do que pela qualidade). Os dois até combinaram se apresentarem em uma próxima Kiss Expo.

Durante uma segunda sessão de perguntas e respostas, para alguns fãs que pagaram mais caro, Vinnie finalmente deu a sua versão para a saída do Kíss (sempre se considerando injustiçado) e para a suposta expulsão de sua própria banda, a farofa Vinnie Vincent Invasion, quando a gravadora resolveu manter os demais músicos e criar o Slaughter, banda que está em atividade até hoje.

Ao relatar sua vida nos últimos anos, Vinnie chorou algumas vezes e parecia genuinamente emocionado e sentido por tudo que passou. Mas a felicidade e gratidão que externou em estar entre fãs e amigos superou o clima de tristeza e deixou os fãs também felizes por ver o ídolo de volta.

Vinnie Vincent entrou no Kiss em 1982. Era então um guitarrista desconhecido e teve de ocupar o lugar do lendário Ace Frehley. Ajudou a compor ótimas canções como "Lick it up" e levou o Kiss adiante. Inclusive foi ele que participou do famoso show do Maracanã, em 83. No entanto, aparentemente ele tumultou a vida dos controladores Paul Stanley e Gene Simmons e foi demitido.

Depois de dois intensos discos com o Vinnie Vincent Invasion, ele tentou vender um EP pela internet aos fãs, e pelo que se sabe deu calote em vários. Por isso é que essa sua volta paz e amor tem que ser vista com ressalvas, pois o que não falta é empresário detonando o músico por quebras de contrato e até duas ações contra o Kiss por direitos autorais ele perdeu, tendo até que pagar as custas do processo.

Mas a maioria dos fãs é fiel até nas adversidades e erros dos artistas. Então é provável que, se depender deles, Vinnie Vincent tem chance de, pelo menos, manter uma sobrevida artística por alguns anos. Nem que seja no circuito fechado das Kiss Expos.