Post feito por Christian Heit (o popular Murilo Armageddon – @AwareRocks)

(O amigo Rômulo Metal me pediu pra fazer um review desse show. Eu falei que talvez não fosse uma boa idéia porque seria um post predominantemente lamurioso. Ele não fez objeção. Como eu pretendo fazer descrições mais sentimentais dos show aos quais compareço, e não tanto analíticas, aqui está:)

Razões para este ser um review lamurioso:

– Sou um fã, principalmente, da fase mais antiga da banda. Como alguns dizem, uma “viúva do Kevin Moore”, primeiro tecladista da banda.

– Dream Theater foi a única banda que realmente ameaçou tirar o posto do Aerosmith de Nº1 no meu coração (óun), mas entrou num declínio criativo sistemático após atingir seu ápice com o álbum Scenes From A Memory.

– Pra completar, em 2010, após conflitos de ideais, eles conseguiram a façanha de excluir da banda seu líder e membro mais carismático, o baterista Mike Portnoy.

Não devo ficar me alongando nesses motivos e percalços, eles estão melhor explanados no podcast que gravamos sobre a banda (Clique AQUI para ouvir o podcast). E digo que, mesmo neste, não falei tudo que queria falar, pois poderia ficar umas boas horas descendo o pau na banda que já foi tão querida pra mim.

Foi por todo esse histórico e a esperança de ver alguns clássicos que arranjei algum ânimo para ir ao show, vendo-os pela primeira vez na minha cidade (em 2010 fui ver o “Guns N’ Roses”), já tendo ido a três shows em São Paulo.

Mas vamos a este: como se espera, a performance da banda é praticamente impecável, sendo difícil encontrar alguma diferença com as versões de estúdio, pois costumam executar os solos e passagens instrumentais fielmente ao que foi gravado, dando pouca brecha para improvisos.

Devido a destreza exigida para executar suas músicas, não se pode exigir do Dream Theater muita movimentação e presença de palco, algo que nunca me incomodou. Mas é um pouco estranho e fica dificil ver um grande clima de entusiasmo e naturalidade sem Mike Portnoy junto, o baterista com mais presença de palco que já vi ao vivo. As poucas e esquemáticas interações do vocalista James Labrie com o público confirmam isso.

Este último, aliás, teve um bom desempenho, contrariando minhas expectativas, pois teve uma carreira muito irregular ao vivo, tendo que administrar problemas com a voz em anos anteriores. Chega neste show, como a maioria dos vocalistas que se aproximam dos 50 anos, com o alcance vocal já limitado, mas, repito, performance satisfatória.

O novo baterista, Mike Mangini, se mostra entrosado com os outros membros, e nunca precisou provar nada a ninguém, pois já era um músico estabelecido no cenário musical antes do convite para se juntar a banda. Apenas acho o seu kit de bateria um pouco feio, parecendo que ele está dentro de uma caixa, mas cada um faz o set-up que quer.

Por razões óbvias, as músicas que mais me agradaram foram da época “pré-anos 2000”. As canções do disco novo, A Dramatic Turn Of Events (o qual mal consegui escutar mais de uma vez), soam como uma audição interessante, mas mais do mesmo material predominante nos últimos discos: Frankensteins extensos envoltos numa bela embalagem, mas com conteúdo insosso.

Quando começou A Fortune In Lies, a primeira música do primeiro disco da carreira, finalmente senti que havia começado o show para mim. Wait For Sleep e Surrounded também foram momentos inspiradores. Ainda mais por esta última, que é uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos, ter sido executada na sua versão original, e não numa desnecessaria versão estendida, como na turnê de 2007/2008.

The Spirit Carries On foi precedida por uma longa introdução (quase 10 minutos) da parte do guitarrista John Petrucci e o tecladista Jordan Rudess (apesar do destaque para Petrucci, não considerarei um “solo” devido ao acompanhamento do companheiro na construção do clima). O grande hit comercial do Dream Theater, Pull Me Under se encarregou de fechar a noite.

No geral, o público respondeu a todo o show com grande entusiasmo (a banda se favoreceu do fator internet, com a virada do milênio, quando começou a fazer um som mais “metaleiro” e conquistou uma parcela de fãs que tem uma queda maior por este estilo do que pelo progressivo), mas, por todo já mencionado histórico da banda, fica para mim fica uma sensação de tristeza, visto que a existência de alguns fatores dificilmente trarão a banda de volta a um patamar que volte a despertar minha admiração, tendo sido esse, possivelmente, o último show do Dream Theater que compareci, e me arrependi.

Setlist:
Bridges In The Sky
These Walls
Build Me Up, Break Me Down
Caught In A Web
This Is The Life
Lost Not Forgotten
Wait For Sleep
Far From Heaven
A Fortune In Lies
Outcry
Surrounded
On The Backs of Angels
War Inside My Head
The Test That Stumped Them All
The Spirit Carries On
Breaking All Illusions
Pull Me Under

Let’s play PROGRESSIVE ROCK!